John Galliano fez mais uma vez: desafiou todos os indicativos financeiros a que se rende a maioria de seus pares e apresentou um desfile ousado e deslumbrante, anos luz do conformismo comercial, ao abrir a semana parisiense de alta costura Outono 2010.
O estilista foi à Primavera da Casa Christian Dior de 1953, que introduziu a linha tulipa, mas apresentou uma coleção original e fresca como o jardim em que se inspirou, tanto no conceito das roupas, como na apresentação. Os cabelos elaborados para o alto como bulbos, desafiando a gravidade, foram envolvidos por headdresses que parecem o celofane do arranjo do florista, o que transformou cada modelo em um buquê invertido.
Galliano relatou que sua pesquisa incluiu o estudo de flores naturais e a incidência da luz sobre suas cores, especialmente a tulipa papagaio que, com sua beleza estravagante, mesclada de laranja e amarelo, adornava o cenário do desfile. O resultado foi um domínio absoluto das cores e dégradés; das camadas e texturas sobre modelagem intrincada, que reproduziram a natureza com graça e longe do óbvio.
O make sofisticado reproduziu as cores da coleção, com muito laranja e azul acqua sobre a pele pálida.
Tulipas, cravos, orquídeas, crisântemos, lírios, hortências, violetas. Estão todas interpretadas na coleção que inclui algumas estampas e pinturas à mão.
A cintura definida, marca registrada de Dior, foi cultivada por Galliano, que a amarrou com fitas e fios que lembram ráfia, mais uma referência aos arranjos florais.
Escolhas acretadas: proporções perfeitas e comprimentos harmoniosos; curtos e longos; saias volumosas e muitas camadas; tule, seda pura e musseline em contraste com cachemere acentua a opulência da coleção que dispensou a pedraria.
O jardineiro cuidou bem de suas flores e nada mais resta senão receber os aplausos.
Fotos: Style.com