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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Beleza no improvável

O Embaixador da Itália, Gherardo La Francesca, expõe suas fotografias no Museu Nacional dos Correios, em Brasília, a partir desta quinta-feira, dia 29. A mostra Dettagli reúne um conjunto de imagens com detalhes que identificou como fundamentais ao capturar um momento com sua câmera. "A maioria deve ser cuidadosamente ignorada; são irrelevantes, absorvem a atenção e distraem do que é realmente importante. Alguns contudo são essenciais (...) Qual é a diferença entre uma bela manhã e um dia nublado, entre amor e sexo, entre sublime e vulgar?"


Essa procura La Francesca traduz como sendo o processo de busca de sua "modesta rua de acesso à criatividade - porque todo o mundo, não somente os artistas, podem ter acesso".  Mas enfatiza que não foi caminho fácil. "Tentei por mais de vinte anos, com poucos resultados", conta, apesar de estar seguro de que a câmera fotográfica era o instrumento certo. 

Em seu relato indica que depois de anos experimentando com a beleza evidente, descobriu a beleza em locais inesperados e improváveis, abrindo um novo mundo de descobertas interiores: 

"Produzir imagens abstratas com a fotografia: uma contradição que me atraiu desde a primeira vez que tomei nas mãos uma (câmera) reflex (sistema que revolucionou a fotografia ao permitir ao fotógrafo enxergar a exata imagem que é vista pela lente). Utilizar a técnica que melhor reproduz a realidade para ir além dos limites do concreto é, de fato, um belo desafio.


No final dos anos 70, na Grécia, admirava a pureza das linhas arquitetônicas nas igrejinhas cíclades. Na Argentina, no início dos anos 80, capturava sombras sobre os cascos enferrujados dos navios no porto de Buenos Aires. No Egito e no Japão, na década de 90, procurava formas geométricas nas dunas de areia do deserto e nas decorações dos templos budistas e xintoístas. Em Veneza, em tempos mais recentes, fui atraído pelos reflexos na laguna vindo dos edifícios coloridos de Burano.

Frequentemente estava perto a uma via de acesso para um mundo diferente. Mais de uma vez a porta abriu-se, somente um instante, para depois fechar na minha cara. Uma longa, quase infrutífera pesquisa, durante a qual porém, alguma coisa amadurecia e três princípios fundamentais tornavam-se sempre mais claros.


Fotografia é uma palavra grega composta da fos (luz) e grafia (escrita). É preciso procurar a luz. Dar vida as cores e dimensões as formas. Mas é preciso fazes isso rápido: uma nuvem cobre o sol e o milagre desaparece em um piscar de olhos.

A beleza está entorno a nós, no geral em lugares inesperados e quase invisíveis, na maioria das vezes criada pelas mãos de artistas inconscientes. Devemos explorar com cuidado o terreno ao nosso redor e aprender a vê-la. Vemos mais com o cérebro do que com os olhos.

É necessário selecionar as imagens certas e olhar para elas com a perspectiva justa. A máquina fotográfica é um instrumento útil para este fim. Tudo era claro para mim, mas não conseguia colocar em prática a teoria. Depois, um dia, aconteceu.


Outono de 2003, Aghios Kassianos, bairro de Nicósia, Chipre. De frente para alguns barris pintados em um depósito de coisas velhas, Alice encontrou a chave para entrar no País das Maravilhas. O explorador tinha individuado uma nova passagem. Uma sensação excitante.

No dia seguinte corri para meu laboratório fotográfico. Doze fotos foram selecionadas para a ampliação. Aquela noite meus sonhos foram povoados de novas formas e cores. Nos meses sucessivos, a passagem voltou a abrir-se várias vezes. Uma cúpula de perspex em um parquinho de crianças, um poste, as molas de aço de uma cama velha, a carcaça de um avião abandonado. Observe-os com cuidado, podem conduzir-nos ao planeta da beleza." 


Dettagli
de Gherardo La Francesca

29 de novembro a 21 de dezembro de 2012-11-26
Museu Nacional dos Correios
SCS, Quadra 4, bloco A, Ed. Apolo nº 256
de terças a sextas-feiras, das 10h às 19h
sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h