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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Perdemos Eliana Tranchesi, grande nome da moda no Brasil

Eliana Tranchesi transformou a moda brasileira. E mudou o conceito do que significa atender o cliente. Eliana herdou o nome Daslu - essa composição singela que se referia a Lucia Piva de Albuquerque, sua mãe, e Lourdes Aranha, ambas apelidadas Lu, que em 1958 atendiam as amigas com muita conversa e cafezinho. A casa no bairro residencial paulistano de Vila Nova Conceição foi crescendo e chegou a incorporar 23 casas. Pelas mãos de Eliana, a loja - sem vitrines e sem nome na porta - atraía clientes de todo o Brasil e foi se tornando modelo de atendimento com mimos e respeito à clientela. O espírito inicial foi mantido e aperfeiçoado por uma gestão que privilegiava o tratamento personalizado - onde as clientes eram tratadas como amigas - e os pequenos detalhes, que criavam a atmosfera de um clube exclusivo mas ao alcance de qualquer cliente que cruzasse as portas da loja. 


Eliana criou a etiqueta Daslu, com confecção própria desenhada a partir das tendências internacionais e, mais tarde, com a abertura do país às exportações, ela ousou: recheou os corners da loja com grifes como Dior, Chanel, Valentino, Dolce & Gabbana e Ferragamo e expôs o consumidor brasileiro a produtos aos quais até então não tinha acesso. Sustentada pela estabilidade da moeda brasileira a sociedade brasileira consumiu e a Daslu foi construindo um conceito inédito no Brasil e na década de 90 vendia também linhas infantis, produtos de casa, objetos de luxo e a Daslu Homem em um espaço exclusivo. Esses objetos de desejo passaram a integrar a revista que Eliana criou, produzida inteira e exclusivamente para a Daslu. 



Quando não era mais possível permanecer no bairro residencial, Eliana promoveu a mudança para o prédio de inspiração neoclássica no bairro da Vila Olímpia e construiu uma catedral de luxo e sinônimo de qualidade nos 17 mil metros de loja mais 3 mil de terraço, onde permaneceu por seis anos. Esse conceito de templo de consumo e luxo ganhou a imprensa internacional. 



Eliana redefiniu o mercado de luxo no Brasil e sua atuação estimulou a indústria nacional a produzir produtos luxuosos e a buscar a excelência para ocupar espaço nesse novo mercado. A Dalsu tornou-se referência de compras no mundo inteiro, reforçada por um showroom no requintado Hotel Plaza Athenée, em Paris, montado para a imprensa e compradores durante as temporadas de prêt-à-porter. Eliane traduziu e influênciou o lifestyle dos consumidores de alto padrão e o mundo passou a saber que havia moda no Brasil.

Hoje a Daslu é propriedade da Leap Investments. Com o fechamento da Daslu Villa, novo ciclo terminou. Depois da abertura da loja no shopping Cidade Jardim; da Daslu Rio, no Fashion Mall; da Daslu Outlet, no Outlet Premiu, em Itupeva; a mais nova operação será a loja do shopping JK Iguatemi que, segundo os jornais, seria operada por Eliana - ironia pagar royalts por sua própria marca - e agora deve ser comandada por seus herdeiros, os filhos Bernardino, o Dinho, 26; Luciana, 23; e Marcella, 20, em co-gestão com o grupo Iguatemi.  

liana com Bernardino, Luciana e Marcella

Eliana Tranchesi não foi a única a cometer erros e a burlar o fisco - em um país que penaliza o setor produtivo e o consumidor com uma cascata absurda de impostos e encargos - apenas foi escolhida como caso exemplar, exibida qual troféu e humilhada durante a Operação Narciso. Um ano depois, em 2006, viria o diagnóstico de câncer no pulmão contra o qual vinha guerreiramente lutando até a madrugada de ontem. Não apenas a moda, mas a economia brasileira deve muito a Eliana. E vai sentir sua falta.

Fotos: reprodução